segunda-feira, 9 de junho de 2008

Érico Veríssimo nos Estados Unidos ...

De uma série de conferências sobre literatura brasileira que foram proferidas pelo escritor brasileiro (gaúcho) Érico Veríssimo (1905-1975) na Universidade da Califórnia-Berkeley, a convite do Departamento de Estado norte-americano, no ano de 1944, apresentamos aqui algumas considerações pertinentes ao tema proposto, destaca-se o papel que o escritor reivindicou para o Brasil no novo cenário que se desenhava no continente americano em meados da década de 1940. Publicadas em inglês em 1945, com o título de Brazilian literature – anoutline, foram consideradas pelo próprio autor como um trabalho sem importância, tendo permanecido praticamente desconhecidas da crítica brasileira até sua tradução e publicação no Brasil, depois de exatos cinqüenta anos da edição original.
Num contexto conturbado, marcado pela segunda guerra mundial, pelo autoritarismo do Estado Novo no Brasil e pela política da “boa-vizinhança” implementada pelo governo de Franklin Roosevelt para a América Latina, Érico Veríssimo situa para a platéia norte-americana a literatura brasileira como meio exemplar para o diálogo interamericano, pois por ela se revela a especificidade da identidade brasileira, cujo caráter “mestiço” e “mesclado”, bem representado por Macunaíma o herói sem nenhum caráter, se mostraria como uma alternativa às relações assimétricas entre os Estados Unidos e o Brasil e, de modo geral, entre os Estados Unidos e a América latina.
É nesse contexto que Érico Veríssimo chega aos Estados Unidos e seu objetivo é mostrar que o Brasil pode contribuir no proposto diálogo panamericano, equilibrando o materialismo ianque com o “caráter mais humano” do brasileiro, pois – diz Veríssimo - somos antes mágicos que lógicos. Somos poetas e não profetas. Entre palavras e idéias, aderimos às palavras e começamos a brincar cheios de alegria com elas. Somos um povo que prefere a paixão à razão. (VERISSIMO, 1995: 58).
Colocando em xeque a invenção estereotipada do país, vai questionando de modo diplomático – eis que convidado oficial – o discurso da “boa vizinhança”, naquilo que camuflava os interesses estratégicos de dominação, reivindicando uma negociação mais “justa”, por assim dizer, no conjunto das relações entre EUA e Brasil, visando, é claro, não sensibilizar o establishment político-econômico, mas os grupos acadêmicos a quem falava. Assim, pela apresentação da literatura brasileira busca despertar a simpatia da platéia, ou depois, do público leitor, pela alma brasileira, cuja essência, embora estranha e mal compreendida pelos norte-americanos, está com eles no “mesmo barco, numa travessia muito incerta e tempestuosa, e o menos que podemos fazer com sabedoria é tentar compreender nossos companheiros de viagem”. (VERISSIMO, 1995: 17).

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