domingo, 8 de junho de 2008

O Senhor Embaixador


Este é o primeiro livro que Érico Veríssimo escreveu após sua consagrada trilogia O Tempo e o Vento e representa uma experiência nova na carreira do romancista, a essa altura já enriquecida de títulos e temas tão diversos como Clarissa e Noite, Caminhos Cruzados e Olhai os Lírios do Campo.
Nas primeiras três partes do romance, - As Credenciais, A Festa e O Carrossel -, a ação se desenvolve em Washington D.C..A última - intitulada A Montanha - tem por cenário a República do Sacramento, ilha do Caribe governada despoticamente por um militar que conta com o amparo duma oligarquia rural e de duas companhias norte-americanas. A estória tem início na manhã em que Don Gabriel Heliodoro Alvarado entrega ao Presidente Eisenhower, em Washington, suas credenciais de embaixador. Nesse mesmo dia o leitor já travava conhecimento com as principais personagens do livro - uma das mais ricas e expressivas galerias de tipos já criadas pelo ficcionista gaúcho: Juventino Carrera, o ditador sacramentenho; Pablo Ortega, um primeiro-secretário com tendências liberais; Pancho Vivanco e sua mulher Rosalía; Jorge Molina, o ministro conselheiro que se debate numa inesgotável crise de fé; Leonardo Gris, um humanista, exilado político a conspirar com alguns compatriotas para a derrubada do tirano; Glenda Doremus, uma americana racista e problematizada; Bill Godkin, um "gringo tranqüilo", especialista em assuntos latino-americanos numa agência de notícias; o Gen. Hugo Ugarte, adido militar da embaixada, um dos mais corruptos e cruéis chefes de polícia que a capital de Sacramento já vira. Nesse verdadeiro "carrossel diplomático" tem o leitor a visão de um universo de interesses em debate, no centro do qual avulta a pessoa de Gabriel Heliodoro Alvarado, o modelo do protegido político, do homem "leal ao regime e de notáveis serviços à causa da República".
O Senhor Embaixador é um livro escrito com apaixonada franqueza. Fala dos gravíssimos problemas que afetam a nossa época e o nosso continente. Mas é essencialmente um estudo da natureza humana, do homem como um ser em permanente estado de tensão. É uma narrativa de amplos recursos e propósitos e pode ser comparada, como sugere seu próprio autor, a um foguete que, uma vez acesso, começa a erguer-se vagarosamente - pois no início a estória parece apenas ser uma comédia satírica de costumes diplomáticos - mas em breve ganha ímpeto, sobe com a força de um rojão - e acaba explodindo, alto, numa tragédia...

[Comentário extraído do livro O Senhor Embaixador (contracapa)]


O Senhor Embaixador é o primeiro romance em importância após a trilogia de O Tempo e o Vento. Esse livro revelou mudanças no romancista. Nele não se encontram formalismos literários ou truques de narração, é o narrador puro. O romancista mostra a sua história em estado de pureza e primitivismo. Em toda a obra, pode-se perceber o realismo em que o romancista mostra e descreve, como diz Antônio Cândido:
“O embaixador do romance, amigo do ditador que governa a pequena República das Caraíbas, é a um tempo romântico e patético, no seu esforço de se equilibrar entre a sobriedade do meio em que agora vive e a violência de seu passado e dos amores que o cercam. Aí, torna-se importante o lado sexual da história, com casos e contracasos acontecendo nos meios burocrático-diplomáticos de Washington. Poucas vezes terá um romancista brasileiro sido tão direto no revelar os bastidores de um ambiente. (...) O Senhor Embaixador volta a por um narrador brasileiro em campo internacional, e , desta vez, com tal despojamento de literatices que vai ao encontro da narrativa pura, sem falseamentos tidos como literários, numa tradição que vem do tempo em que nossos antepassados se reuniam, em cavernas, ao redor de quem soubesse contar, com direiteza e realismo, uma história”.



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